A gente sabe, repete, se locupetra ou lamenta que somos um povo pouco letrado, avesso à leitura, analfabeto ou preguiçoso. E como sempre, as máximas, os lugares comuns e a propaganda são uma praga: quando pegam, dogmatizam.
É conhecido também, batido e irritante que as pessoas do mundo estão sem tempo e sem saco, cada vez mais sem tempo e saco, numa progressão geométrica de encolhimento desesperante. E claro, os chavões, os power-points e os pseudo-teóricos da propaganda são como bicho do pé: não largam.
Então convencionou-se, sabe-se lá por qual encurtamento de raciocínio, sabe-se lá por qual constatação metida a científica, que as pessoas não lêem propaganda. A ditadura da direção de arte, conceitual, alto explicativa, cirurgicamente trabalhada, venceu o verbo.
A menos que sejam esses novos apóstolos da classe C que mandam dizer que o pobre é ignorante.
Pois é verdade que de tanto ver textos mal escritos, estúpidos, banais, dispensáveis ou simplesmente acoplados para satisfações individuais, check-lists ou disaster-checks, quem sabe escrever perdeu o tesão de lapidar palavras e estilos.
Mas como entre oito e oitenta, tem setenta e dois matizes, a aversão ao texto e seu corolário que endeusa a imagem, não tem lógica nem comprovação, salvo preconceitos.
E quem provou que a imagem é mais simples de entender que a palavra? Se assim fosse, ainda escreveríamos em hieroglifos. Quem disse que falar por imagem é mais preciso? Se assim fosse, seríamos silvícolas que precisam de muitos gestos para dar sentido a seu parco vocabulário.
O homem inventou a escrita, representação simbólica de coisas tangíveis e “coisas” imateriais. Foi uma evolução registrar o mundo em palavras, muito mais avançado que nossos garranchos das cavernas.
Ninguém negaria o poder da imagem, ora pois, mas não vamos exagerar também.
Pessoal, já tem muita gente no Brasil que sabe ler, sabiam? Daqui a pouco atrofia!
por Fernand Alphen's
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